Tudo Posso Naquele Que Me Apetece

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Era uma daquelas coisas inéditas que acontecem tantas vezes na vida. Olhar para sua mocinha era o mundo todo desfocado e ele de óculos 3D. Só de conversar com ela brotava uma vontade louca de ter paciência e rever algumas ideias tão antigas como coreto de praça de cidade pequena. Sem falar na aparência. Sabe quando você compra aquele aparelho de som novo que foi desenhado por designers bem pagos para atingir não qualquer público-alvo, mas única e exclusivamente você? Ou suco de melancia, que é uma delícia e não engorda? Ou ir ao dentista e você não tem cárie nenhuma? Pois é… Era assim que ele se sentia quando encontrava sua amiguinha favorita. E o universo é sem dúvida uma gigantesca empresa em que ninguém entende nada e tem tanto procedimento que não sabemos os porquês. Mas como diz aquele livrão de capa escura, foi tudo feito à imagem e semelhança, de onde se conclui que não podemos esperar muito. Tudo que sabemos e conhecemos é menos que a goteira da torneira da casinha do assistente do caseiro júnior. Então é bem pouco provável que qualquer compreensão nossa sirva de alguma coisa além de nós mesmos. Uma coisa que deixava nosso amigo feliz da vida era estar perto da sua amiguinha. Fisicamente ou na memória de um dos dois. E isso já era tão bom demais da conta que, se precisasse, até entenderia o conjunto das coisas todas. Inclusive o fato de que tudo tende a passar como soluços e coceiras na sola do pé quando estamos de bota.

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