Estou ouvindo o disco do meu amigo T. Greguol. Logo de cara notei o humor muito pessoal presente em suas diversas manifestações artísticas. Expressando uma sinceridade tão sincera, que se torna ingênua. E tem coisa mais subversiva e revolucionária do que ser ingênuo hoje em dia? Não confundir com alienação: Greguol sabe bem o que é o mundo e tem sensibilidade e profundidade existencial evidentes ao se comunicar através da arte. Quando vi suas ‘Perguntas do T.’, suficientes, necessárias e que tive o prazer de responder; ou o livro com suas artes em diversas técnicas, algumas delas muito, mas muito legais!; não tinha ideia que ele fazia música também. E, com ela, novamente me surpreendo. Ouço ‘A Música’, reflito sobre a letra: é a playlist da vida e no lugar de algoritmos tem afetividade. Ouço umas bateras bem legais, e arranjos de guitarra ora discretos, ora protagonistas, sempre sofisticados. Chega ‘Tínitus’. É rock’n’roll que chama, né? “1, 2, 3, 4, 5, 6 eu troco 6 por meia dúzia!”. T. leva a sério as infinitas influências que deságuam num mar de muita personalidade e extrema sinceridade. Aí ele canta ‘Eu Tenho Tido Muita Sorte’ e emociona. Realmente é uma tremenda sorte estarmos por aqui ainda, não é mesmo? A próxima é ‘Mim’. Cara, de onde vem essa harmonia? O efeito vocal dos primeiros trabalhos do Kraftwerk segue surpreendente, e a mistura com um potente iê-iê-iê tem em sua letra a constatação que diz respeito a todos nós: “tem um esqueleto dentro de mim”. ‘Acaso’ tem ares de trilha de filme giallo do Dario Argento. Acordes com leves dissonâncias, um passeio no tempo com uma levada de bateria em que vale a pena se ligar, enquanto a letra desmistifica: “é tudo acaso”. ‘Sísifo’ tem um trabalho vocal bem cuidado, percussivo; algo na letra me lembrou o programa Renda Básica do Eduardo Suplicy. Ainda tem a batida funk e é uma canção sem banda, que dá ao ouvinte um sábio respiro. Na sequência ouço um solo de piano finíssimo e uma voz dizendo “nem deuses, nem E.T.s, nem nada que sinta fome”… Versos, melodia, levada, peso e refrão que desafiam a não sairmos cantando por aí. No fim, T. Greguol assume o que eu já desconfiava há um bom tempo: ele é um homem garoto, um menino homem que “não vai tirar dez na sua prova”, porque ele não precisa provar nada pra ninguém. Acabou o álbum e sabe o que vou fazer? Vou ouvir de novo.