Araçá
Quando eu morrer
Eu sei que eu vou pra lá
É uma questão de tempo
A maternidade e o Araçá
Evolução tradicional
Do verbo ser e estar
Meu caminho é garantido: Maternidade Araçá
Posso até perder a memória
Agora está tudo pronto, já
Mas eu vou sempre seguir da maternidade pro Araçá
‘Da maternidade ao Araçá’
É a regra sem exceção
É o caminho a se cursar até onde pára meu coração
Acorda
Cara parado tá fazendo nada
Tá tudo pronto, mas ele não tá
Olhos abertos, cérebro de molho
Orelhas lá, mas não para escutar
Pare, pense e some um mais um
Se liga, porque já vai acabar
Você pode ter tudo de novo
Mas antes você tem que acordar
Acorda, levanta e vai se lavar
Acorda, levanta e vai se usar
Acorda, levanta e vai se virar
FUNERAL
Hoje eu vou dar uma festa
Quem quiser pode aparecer
Essa vai ser de agora
Até o amanhecer
É uma festa de despedida
Barulho derradeiro do que era eu
Se não me viu até agora…
Já perdeu
É a morte sem enterro!
De um cara que já morreu
Funeral atual de um cara
Do cara que era eu!
Não me lembre quem eu sou
Mesmo porque já não sou mais
Aproveite o meu último adeus
E me deixe morrer em paz
Bluesinho Que Era Pra Ser Um Jazz Mas Não Foi, Mesmo Porque, Era Pra Você e Acabou Não Sendo
Você não vê que eu sou assim meio atrapalhado
E que interrompo qualquer diálogo
Só pra dizer ‘me conta mais sobre você’
Você não vê que eu sou assim meio exagerado
Quando falo bastante ou quando fico calado
Só pra poder brilhar mais pra você
Você não vê que sou assim meio tarado
Que sou completamente vidrado
Só por você, por gente assim como você
Põe a mão no meu peito
E sente a taquicardia e Sente a disritmia
E me diz qual é o nome disso.
Desabafo
Queria nunca ter lido um livro
Nunca ter ouvido uma música
Nem nunca ter assistido a um filme
Talvez assim essa coceira nem tivesse começado
O CÉU
O céu, o céu é meu chapéu
Uma nuvem ilusão
E sob esse chapéu
É todo mundo meu irmão
O céu, o céu é meu chapéu
Essa bota é o meu chão
E sob esse chapéu
Está tudo na minha mão
O céu, o céu é meu chapéu
Não existe nada em vão
E sob esse chapéu
Você é meu coração
Onde deixo meu chapéu é onde me sinto em casa
Monstro, o ser tri cerebral
Nasci de duas criaturas e fui criado no meio delas
E quando perder meu nome, acenderão algumas velas
Uns me julgam eterno, outros perecível
Posso fazer de tudo, do banal ao mais incrível
Eu sou o Monstro
Sempre quando eu me lho, sinto pavor de mim mesmo
E se eu fosse você, começaria a fazer o mesmo
Eu busco a fama, eu danço na lama
Me reviro na cama e espalho o meu drama
Eu sou o Monstro
Não sou assim tão feio, mas eu sei o que eu sou
Um monstro só não faz verão, mas aqui está um calor do cão
Eu sou o Monstro
Faço mil bobagens só pra te assustar
É terror, comédia e bomba nuclear
Eu sou o Monstro
E Agora?
Disseram que sou o que penso
Penso tanto que nem sei mais
Eu leio, ouço e assisto a tudo
Continuo vazio e querendo mais
Eu já estive só, já estive junto
Descobri o que me mantém de pé
O que me difere de um defunto
Talvez seja o que chamam de fé
Não há o que diga que não saiba, não sou um gênio, mas por favor
Preciso mais do que um ‘Oi!’ e menos que compromisso e louvor
Quando penso em você
Lembro de algo que se escondeu
E lembro no mesmo instante
Que meu maior inimigo sou eu
O show de Truman
Sou parteira, mas não entendo a vida
Sinto-me em casa mesmo onde não tem parede
Ser padre não faz de mim um santo
Estar na piscina não tira minha sede
Eu não sou o que está à minha volta
Eu não sou a minha ocupação
Isso tudo aqui é um cenário
De uma superprodução
Tem que brotar do fundo do fundo o sentimento de desmascarar
É difícil, é doloroso e só depois da descoberta é que vou parar
Toda minha certeza já foi levada
Não ponho a mão no fogo por quase nada
Pensei que tinha entendido a piada
Quando só estava seguindo a pegada
Ghismo (Mogwai)
Me olhou na vitrine
Já quis comprar
Infelizmente só viu o que dizia
O comercial
Não viu o meu lado chato, feio, o meu lado pobre
Nem o meu lado vazio
E nem a crise existencial
Condolências
Tem um monte de gente que tá roubando
Outro dia me assaltaram na rua
Ainda bem que só levaram a minha carteira (da próxima vez podia ser a sua)
Tem um monte de gente que tá matando
Outro dia mataram alguém que conheci
Ainda não sabem quem foi o desgraçado
E tem uns que ainda não caíram em si
Tem um monte de gente que tá delirando
Outro dia é outro e agora é diferente
E continuam dizendo como era costume:
“Onde esse mundo vai parar, minha gente?”
Tem um monte de gente que tá surtando
Outro dia reclamaram do trânsito, da violência e… Sei lá, mais um monte de coisas, e aí no mesmo dia me falaram sobre ter um filho! Na hora eu parei e antes de sair eu dei minhas condolências
Gostaria de não ter que chamar um táxi
Quando era pequeno e novo na escola
Esperava bastante tempo, pensando lá no fundo
Se viriam me buscar pra me levar pra casa
Quando eu fui viajar pela primeira vez sozinho
Passei bastante tempo refletindo lá no fundo
Quando viriam me buscar pra me levar pra casa
Agora eu sou adulto e conheço quase tudo
E continuo esperando de forma infantil
Até virem me buscar pra me levar pra casa
SUPER-HERÓI FORA SÉRIE
Eu sou eu do meu pé ate a cuca
Refletindo o estado universal
Sou algo num laboratório perdido
O meu mundo e do tamanho de um dedal
Saquei que o problema é comigo
Sou o cara voando pra me salvar
Eu sou o meu próprio arquiinimigo
O meu super-herói particular
Eu pedi ajuda para alguém
Que pediu ajuda de outro alguém
Que na duvida chamou por mais alguém
Que no fim clamou por uma mão
Eu nasci com ajuda de alguém
Me alimentei com ajuda de alguém
E desde então fui precisando de alguém
Mas no fundo, lá no fundo eu sou também…
FENIX
O meu ódio não dura mais do que só quinze minutos
Em breve morre, decompõe, não sobra nem os mosquitos
Nada some, se transforma, então estamos todos quites
E logo nasce um novo eu e já estou pronto pra recomeçar
O meu amor é um bicho pra lá de muito esquisito
Perdoa tudo por ser sábio ou ser muito esquecido
Não julga nada e acha até o que eu não gosto bonito
E sempre estende a mão, sorri pra mim e me manda recomeçar
O meu tempo não me obedece então às vezes eu corro
Eu pego o bonde, eu perco o timing e até grito socorro
Mas só existe uma hora certa e nessa hora eu morro
Por que então é o momento de tudo que já foi eu recomeçar
A minha imagem refletida é um tanto ingrata
Se por dentro eu evoluo por fora eu sou primata
Se eu digo ‘pare aí’ ela sempre desacata
Mas mesmo assim é sempre bom a gente recomeçar
GÊNESIS
Deus estava lá na Dele todo relaxadão
Não tinha cabeça e nem pinto e nem coração
Em Sua diviníssima cobiça empresarial
Resolveu criar uma novidade magistral
Criou o homem e as aflições para os dois
E também as têm a água e os pacatos bois
Criou tudo aquilo de que tenho conhecimento
E igualmente coisas que por não saber, lamento…
Ele é o melhor de todos os vendedores
Convenceu-nos de viver mesmo tendo dores
Deus, todo dia me pergunto se sou ateu…
Então me ajuda agora, porque o filho é Teu!