Philip K. Dick

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E como numa história de Philip K. Dick, ele jogou o envelope sobre a mesa dizendo-me que tudo que eu conhecia e sabia era papo furado e que, na verdade, eu era um brinquedo. Um brinquedo quebrado, para ser mais exato. Perguntei o que significava tudo aquilo e, girando um palito na boca, ele me explicou que me seguiu por semanas e me observou como havia pedido, e que a conclusão era óbvia: eu era um brinquedo. Um brinquedo quebrado, para ser mais exato. Pedi uma bebida para mim, ele tomou sua própria. Explicou-me que minhas funções não estavam em ordem, e ele não se referia ao meu intestino. Disse que, como um programa ‘trial’, eu funcionava direito até certo ponto, mas na hora de salvar… Nada feito. E repetiu, procurando por melhores imagens: é como… Um brinquedo… Um brinquedo quebrado, para ser mais exato. Essa frase começava a me irritar, assim como aquele chapéu que ele usava. Mas continuei ouvindo – afinal, eu o tinha pagado para fazer esse serviço. Ele me mostrou fotos que provavam que, assim como um controle velho de videogame, eu funcionava bem até que um ou dois comandos encrencados estragassem tudo a qualquer momento. Afinal, eu era um brinquedo. Um brinquedo quebrado, para ser mais exato. Meu Deus do céu, eu odeio essa imagem! Detesto essa metáfora! Mas ele era intransigente e, finalmente, (após fungar aquele narigão) de dentro do envelope pardo tirou a foto do meu problema. Meu problema tinha cabelos curtinhos, castanhos e lisos, usava roupas que quase não combinavam, salvo pelo fato de que elas combinavam, e era tão ela mesma que me deu azia. E finalmente entendi que eu era um brinquedo. Um brinquedo quebrado, para ser mais exato. Saco…

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