E após tanto sofrer, tanto incômodo, tanto desconforto consigo mesmo, nosso herói finalmente teve a revelação. Não, meus amigos, não o tomem por um desvairado, não o vejam como um fraco, nem como um covarde. Ele tentou. Nosso herói tentou tudo. Remédios, conversas, terapias… Mas nada lhe trazia conforto, nada lhe era um ombro amigo. Não havia sentido nas religiões, a sociedade não valia a pena, beber estragaria seu fígado e, sobre todas as certezas, ele tinha uma: aquilo não podia continuar assim! Quando se tem muita informação, o que devemos fazer? Nosso querido mocinho usou a cabeça, o coração e o corpo para colocar em prática. Qual era seu maior desejo? Quais seriam as atitudes que deveria tomar para voltar a ser feliz, para dormir à noite, para andar por aí sem medo de ser feliz? O protagonista desta narrativa somou tudo que aprendera na vida, adicionou tudo que aprendera da vida e dividiu por dois. Tirou a média. Levantou da cama agitado, ansioso, quase falando em voz alta para não esquecer seu plano. Plano que demorou a vir mesmo com tanto esforço mental, emocional e físico. Plano que parece ter vindo só quando ele desistiu. Sentou-se à mesa, pegou seu bloco de notas e começou a fazer uma lista. Ele poderia fazer no computador essa lista, mas estava desligado; a ideia poderia sumir de sua cabeça e ele não queria isso de forma alguma. E sua lista era grande, sua lista começava na pré-adolescência e vinha, vinha, vinha até chegar aos dias de hoje. E chegava em grande estilo, com letra bonita, nome e sobrenome, alguns até com observações de como e quando. Era como um grande roteiro de viagem – tudo ligadinho, um esboço da viagem de família, um rascunho de uma música, os rabiscos iniciais de uma obra prima que superaria a Mona Lisa fosse ela uma pintura. Poucas vezes ele voltou para o topo da gloriosa lista para rasurar um dos itens. Poucas vezes, bem poucas vezes mesmo. Ao terminar estava eufórico, mas cansado. Voltou à primeira página e a nomeou “Lista de afazeres para o ano novo”. Os dias foram se passando e nosso herói parecia ter finalmente achado a chave da felicidade, a solução dos seus problemas, o sentido da vida, seu talento nato. As pessoas começaram a sumir. Algumas deixavam namoradas para trás, outras deixavam namorados. Alguns deixavam casos, irmãos, pais, professores, alunos, pacientes, clientes, cães, gatos, periquitos, filmes sem devolver para a locadora… Todos deixavam algo para trás. Menos nosso querido protagonista. Ele não deixava nada para trás. Ele sabia como fazer, pois fora feito para aquilo. E à medida em que o tempo foi passando foi ficando melhor nisso e foi ficando mais feliz e mais leve e, com isso, mais saudável e mais bonito e mais cheio de esperança de um mundo melhor, onde viver seria um prazer e não um fardo. Muitas vezes , quando via num filme ou lia no jornal ou quando ouvia alguém conversando num bar que não havia crime perfeito, ele apenas sorria como quando uma criança diz que vai pedir presente para o Papai Noel ou quando um crente diz para se ter fé em Deus perto de um ateu convicto e seguro de si. É claro que existe o crime perfeito, tão perfeito que nem crime é e por isso é tão perfeito. É simples, basta deixar rolar, é só agir com naturalidade, é só ser ele mesmo. Um homem e sua missão: ser feliz.