Para todos os lados havia branco. Igual a um deserto de sal, mas lembrava mais o THX 1138. Batia um ventinho e se tivesse um céu ali, seria azul. Azul feito uma colagem tosca no Paint.
Estava sentado numa cadeira de madeira velha e barata, mas algo me dizia que na loja ela custaria uma pequena fortuna.
Dentro da minha cabeça eu refletia sobre a carta de Nick Cave à MTV pedindo para nunca mais indicá-lo a prêmio algum. Nessa carta ele dizia mais ou menos que sempre fora da opinião de que sua arte era única e individual, e existia para além dos reinos habitados por aqueles que queriam reduzir as coisas a simples medições. Eu adorava quando ele dizia “Não estou em competição com ninguém” e “Meu relacionamento com minha ‘musa’ é delicado, e sinto que é meu dever protegê-la de influências que podem ofender sua natureza frágil”. Era uma carta extremamente educada, e eu concordava com tudo e concordava e concordava.
Outra cadeira do meu lado (de diferente formato). Ele era esbelto, alto – de uma estatura invejável – e tinha a reputação de ser muito bonito num certo ângulo e sob certa luz. Sentou-se e cruzou as pernas.
– Está tudo bem comigo. Tenho aquilo de que preciso e do que não tenho não preciso ou estou a caminho de conseguir. Mas tem essa coisinha que me incomoda.
Um cisco entrou no meu olho, mas fiz sinal para ele prosseguir.
– Sabe… Eu não luto pela donzela amada.
Encarei-o piscando com um olho só… De onde teria vindo o cisco?
– Sabe… Lutar por alguém me parece estranho… Se a pessoa quisesse, estaria comigo… E tem outra: mesmo que quisesse… Como diabos eu faria isso?
Acho que este lugar é mesmo um deserto – não de sal, mas deve ser um grão de areia.
– Não me vejo como um cavaleiro que luta pela donzela… Sou um homem de negócios.
Dizendo isso, levantamo-nos e fomos procurar uma barraquinha de água de coco. Parecia que estávamos nos desidratando ali.